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Viver em outros países – até por questão de sobrevivência – aguça os nossos sentidos em dedicar-lhes a análise e compreensão da dinâmica social que os caracteriza. Assim, podemos extrair criticamente aquilo que melhor nos propicie a empatia, adaptação e inserção cultural. Os locais onde estive, sobretudo na Europa, pude esquadrinhá-los em suas peculiaridades histórico-geográficas, vieses políticos e participar do caldeirão multiétnico, sempre em circulação. Penso que seja isso a vivência cidadã.

A considerar que o site não foi pensado como vitrine para prestação de serviços referentes à cidadania italiana, mas com o fim de compartilhar experiências, dedico este espaço para narrar andanças, causos pitorescos, perrengues, coisa séria, aventuras de bicicleta e tudo mais que cabe no balaio desse mundão de Deus…

Divirtam-se!

Metáfora arquitetônica: a cúpula do parlamento alemão, em Berlim

Ao lidar com situações advindas do trabalho com a cidadania italiana, a própria definição de cidadania – e o que tem sido feito dela – passou a ser para mim objeto de reflexão e estudos. Neste particular, do tempo que passei na Alemanha, a capital, Berlim, muito me sensibilizou.    A reconstrução do Palácio do Reichstag, sede da câmara dos deputados, muito me chamou a atenção devido à inteligente metáfora arquitetônica em favor do desfrute da cidadania. A importância do parlamento como fórum democrático – tanto pelo que foi extraído…

“O IBGE ainda está na idade da pedra lascada”: considerações sobre a sentença do Ministro da Economia, Paulo Guedes

Embora a postura do ministro da economia em relação ao IBGE não tenha me surpreendido, eu –  funcionária e portadora do dever institucional de prestar informações correlatas – venho esclarecer as considerações feitas por ele em evento no Rio de Janeiro, publicadas no jornal O Globo, do dia 30/07/2021.   “A Pnad do IBGE está muito atrasada metodologicamente, pesquisa feita por telefone… É muito superior a metodologia do Caged; ela vem direto das empresas. Nós vamos ter inclusive que rever, acelerar os procedimentos do IBGE, porque ele ainda está na…

Os dois extremos em três dias: U2 360º Tour – Sevilha (III)

É muito incrível como as vibrações contagiam a gente. A tarde caia e o pôr do sol nos inspirava ainda mais. Eu avançava a passos rápidos os caminhos do enorme Estádio Olímpico. Já nos corredores escuros, a galera gritava e saltitava. Ainda que um tanto dissipado, eu reconheci o som da banda de abertura, os novaiorquinos da Interpol. Os caras estavam tocando no palco do U2. O super telão em 360º estava aceso!   Mucho loco aquilo… A maioria cantava junto. Deu para notar que a plateia espanhola era quente….

Os dois extremos em três dias: as batidas da Polícias de Fronteira Portuguesa e Espanhola (II)

Entrei no bonito carro da patroa e me refestelei na poltrona. O ronco do motor e o conforto do automóvel funcionavam como sedativo para o meu corpo exausto. A beleza da deserta e tranquila orla da Praia dos Salgados, lá adiante, indo embora, aliviava meus olhos que pareciam impregnados com aquelas viaturas, pranchetas e pessoas desoladas a serem deportadas.   A minha chefe estava muito tranquila. Aquilo me causou incômodo. Perguntei em tom quase irritadiço: – Você me parece demasiado calma. Ela, uma tanto lacônica, ponderou: – Essas batidas costumam…

O dois extremos em três dias: fim do verão europeu = caça à imigração ilegal (I)

Desde que eu havia pisado em Portugal, eu observava a quantidade de pessoas – jovens, adultos, pobres, ricos, contingente de imigração ilegal, nativos – que aproveitavam o verão europeu para tirar um trocado. Trabalhos avulsos, noite sim, semana não, às vezes só mesmo para pagar um breve rolê em outro país vizinho. Contratos mensais. Trimestrais. Sem contrato. Dava de tudo.   Ao longo do trabalho de camareira no hotel, as meninas já haviam me explicado que essa dinâmica de trabalho no verão europeu é super normal. Rola grana, existe muita…

A ótica nerd da imigração italiana: O Irlandês

Princípio de 2020. Na casa de Marcelo, tagarelávamos displicentes sobre cidadania italiana, pesquisas genealógicas e imigração italiana. De repente, ele levantou o dedo no ar e disse ter algo que poderia me interessar. Acessou então um bate-papo entre diretor e protagonistas de O Irlandês. Concentrei-me nos tiozões ali na tela.     Reconheci imediatamente o Robert De Niro e o Joe Pesci. Este, eu não ouvia falar desde Esqueceram de Mim. O semblante simpático do Martin Scorsese veio vagarosamente à minha memória. Já o outro não reconheci. Perguntei quem era….

Dedico aos amigos e à UFJF o meu flerte com o cinema

Pela milésima vez, o filme Minority Report passou na TV aberta. Finalmente consegui empurrá-lo por inteiro goela abaixo. Em algum momento – de tão ruim – o filme trouxe à tona a maneira muito atípica pela qual me interessei por cinema.    Em casa nunca tivemos vídeo cassete. Nem no tempo das vacas gordas. Não tínhamos o hábito de assistir filmes. Acho que não faziam falta diante da nossa pilha de vinis. Às coleções do Chico, Caetano, Mutantes, Clube da Esquina, Elis e Beatles foram adicionados U2, Smiths, Dire Straits,…

Vinho improvisado no Lago di Caldonazzo (Trento)

Naquilo que deveria ser uma breve reunião de bate e volta em Brescia, o repertório de dois verborrágicos advogados italianos demandou mais tempo que o previsto. Eu não conseguiria retornar a tempo de pegar o último ônibus para o interior de Trento.   Bom, não seria a primeira (e nem a última) vez que eu passaria por este tipo de imprevisto. Já dentro do trem rumo a Trento, eu mandei uma mensagem para a Hannah.   A Hannah? Um presente de Berlim Eu a conheci numa carona do blablablacar numa…

Cesena: cidadania italiana e rock n´ roll

Em 2017, a Sarita me mandou um vídeo do youtube com um galerão ordenadamente espalhado entre quadrantes de trocentas baterias, guitarras, baixos e microfones, num lugar descampado, ensolarado, de quase verde esturricada relva. Tratava-se de uma banda gigante a tocar Learn to Fly, do Foo Fighters. O local? Cesena, centro regional da província onde fiz minha primeira busca de documento para processos de cidadania italiana.   Um sorriso se iluminou. Logo na primeira pegada da canção sob a regência do maestro descabelado, eu senti meu corpo arrepiar ante a beleza…

Mark Knopfler: Get Lucky Tour 2010 – Lisboa

Os berros da galera, para quem a vinheta era novidade, me fizeram rememorar e sentir semelhante emoção na abertura do show de Milão. A noite prometia, pois os tugas pareciam bem mais quentes que a plateia italiana.   O Mark veio caminhando devagar e bonachão em meio aos outros. Antes de se sentar na cadeira giratória azul de listra branca, ele parou de frente para a multidão, abriu um sorrisinho lambeta, acenou e pegou a sua Gibson Les Paul. Galera surtou. O sorrisinho virou gargalhada. Ele apoiou parte do corpo…