9. Em Milão, o J.R.R.Tolkien me salva da investida senegalesa

16 de maio de 2016 Paula Esposito

Essa passagem com o senegalês me fez lembrar da “Filosofia da Tosqueira”, ligeira bobagem da nossa galera de faculdade em zoar comentários enviesados.

 

A situação, um tanto cômica, me remeteu a um lado sério que me deixou resoluta em não lhe dar dinheiro ou sair por baixo dessa mini guerra fria. Apesar da marginalização dos senegaleses (e tantos outros) advinda da problemática da imigração, a atitude de amarrar pulseiras no punho das pessoas num momento de distração e sem qualquer consentimento delas como meio de ganhar dinheiro não é gesto honesto. Não raro, isso causa intimidação.

Inusitadamente, me ocorreu que no auge da febre da trilogia O Senhor dos Anéis, a Michele batizou sua cadela-moita com o nome de uma personagem do livro, Arwen. Numa tarde que passamos na cachoeira do Humaitá, ela levou biscoitinhos élficos, chamados lembas, para o nosso lanche. Ao contrário dos hobbits, que os achavam secos e insípidos, eu os achei gostosos, à base de mel.

Assim, munida dessas longínquas memórias, abri um sorriso cínico, empertiguei o tom da minha voz e disse-lhe em péssimo élfico: “Lembas, Arwen?” Como era maravilhoso ver o sorriso do moço murchando devagar em favor de uma indisfarçável cara de dúvida. Coisa de maluco, né? Certamente.

 

O Parque Sempione de Milão

Larguei o senegalês no vácuo e atravessei todo o castelo. Dos fundos se via uma imensa área verde, coisa que deduzi ser um jardim. Ao fundo, bem longe, havia um arco do triunfo.

 

Parco Sempione - Arco do Triunfo (Milão - Itália)

Dos fundos do Castello Sforzesco surge o enorme e lindo Parque Sempione. Ao fundo, o Arco della Pace.

 

Segundo o mapa, o Arena Civica localizava-se dentro dessa imensa área verde, rumo à diagonal direita. Eu caminhava a passos largos, arfando e com o coração acelerado de tanta ansiedade. Notei que havia lugares com perfis turísticos e lazer, como Aquário, museu, quadras poliesportivas e pontes sobre córregos.

Como é sabido que um mapa turístico não tem lá muita precisão sobre distância das coisas (e sobre a própria existência de certas coisas), acabei me confundindo na minha orientação, pois o lugar é realmente enorme. Em proporções bem menores, fazia-me lembrar do museu Mariano Procópio, em Juiz de fora, onde o imenso jardim servia de local de passeio e desporto para atletas que, assim como eu, gostam de dar uma corridinha nas trilhas de cascalho que rumam serpenteando as grandes árvores.

Meu imenso sorriso pela grata lembrança de Juiz de Fora foi displicentemente suspenso por um portal cujas portas de duas abas estavam semiabertas. Dei dois passos para trás, estiquei o pescoço e olhei por entre a fresta. Vi o perfil de um palco e as cadeiras enfileiradas a sua frente.

Mergulhei porta adentro como se eu tivesse sido dragada por uma bomba de vácuo.

 

Parco Sempione - Arena Civica (Milão - Itália)

Portal do Arena Civica: este foi o momento que escorreguei sorrateira porta adentro para pentelhar os preparativos da grande festa.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *