Italianices: por que House of Gucci é uma bagunça?

16 de dezembro de 2021 Paula Esposito

Novamente, eis a ótica nerd da cidadania italiana a me trazer o viés cinematográfico. Muitos me questionam sobre House of Gucci. Confesso já estar meio cabreira desde a pré-produção do filme em função de como condensar a longeva história da grife – e da família – sem provocar reducionismos ou demasiada distorção da realidade.

 

Do tempo que morei e esquadrinhei Roma, quantas e quantas vezes eu atravessei a glamourosa Via dei Condotti rumo à Piazza Spagna para encher a minha garrafa com a água geladinha da fonte da Barcaccia. A loja Gucci (com as assíduas chinesas) fica quase na esquina.

Eu não me lembro de sequer ter parado em frente para olhar a vitrine, pois não é algo com o qual eu me identifico. Mas eu sempre soube o que a marca significa. A vivência em outros países nos propicia – ainda que por osmose – experiências culturais e comportamentais que nos marcam como se fosse ferro à brasa. Quem já morou fora, sabe do que estou falando.

Primeiramente, seguem as ponderações sobre o filme. Ao final, optei também por apresentar uma explanação sobre a história da marca Gucci e as contribuições – para o bem e para o mal – que cada membro da família trouxe para ela.  

 

O roteiro do filme

Eu, particularmente, me arrisquei a sair da quarentena para a sala do cinema esperando por, pelo menos, alguma acuidade histórica e interpretações compatíveis de pessoas que realmente existiram; por mais que o roteiro fosse adaptado para deixar a trama mais interessante. Neste particular, o Ridley Scott (diretor) não costuma cometer grandes navalhadas.

Usualmente, a abordagem de histórias muito longas e intrincadas, como é o caso da Gucci, requer três saídas: ou se produz seriados, ou se produz sagas (Harry Potter, por exemplo) ou se utiliza de pinceladas históricas ao longo da trama, recurso este que pode deixar tênue linha entre uma narrativa confusa ou superficial. Neste sentido, além de ter confirmado o meu receio, o filme ainda trouxe o pior: os personagens caricatos.

 

Drama x Sátira

Com exceção do Rodolfo Gucci, interpretado pelo Jeremy Irons, eu tive a nítida percepção de que os personagens centrais tiveram planificadas as suas personalidades: basicamente assistimos à alpinista social Patrizia Reggiani (Lady Gaga) manipulando o vacilante Maurizio Gucci (Adam Driver) e o boçal Paolo Gucci (Jared Leto). Foram pouquíssimos os “pontos de virada” na evolução dos personagens.

Foi justamente neste particular – os personagens planos – em que pesou uma das contestações gerais sobre a obra: a falta do drama. Considerando este o gênero de classificação do filme, o máximo que eu consegui rastrear – talvez como subgênero – foi a presença da sátira, ali demonstrada pelo figurino, pelo exagero nas atuações e pela usura em que vivia a família. A cena do Aldo Gucci (Al Pacino) ao telefone numa sessão de massagem (com uma massagista oriental) não detém qualquer sutileza.

A veia satírica talvez tenha sido a [péssima] justificativa para o desenvolvimento do inacreditável lunático personagem Paolo Gucci, cuja acurada caracterização do Jared Leto foi pelo ralo em função de tão gratuita e desrespeitosa interpretação.

 

Recursos de câmera

Chamou-me positivamente a atenção os movimentos de câmera – planos abertos, ângulos e travellings – a nos mostrar o tamanho e opulência das propriedades da família. A formidável cena do aniversário do Aldo Gucci mostra isso: a câmera, em plano aberto, nos mostra a mansão de veraneio, vai percorrendo e fechando o ângulo sobre a gigante mesa de jantar e termina seu percurso num close do aniversariante à cabeceira com o idílico Lago di Como ao fundo.

 

House of Gucci - Lago di Como (Milano - Italia)

O Lago di Como, nas redondezas de Milão, foi uma das locações para as filmagens de House of Gucci.

 

Por outro lado, os closes nos carrões, motos e roupas desportivas também nos mostram a usura sob o outro viés do uso da câmera. Repetem-se as cenas do Al Pacino em trajes esportivos no dolce fare niente.

 

 

Atores e personagens

Al Pacino

House of Gucci - Aldo Gucci X Al PacinoAo deslocar o Aldo Gucci – espinha dorsal da família e da marca – para a função de coadjuvante, também foi deslocada uma marcante característica das interpretações do Al Pacino: os personagens intensos.  Confesso, grosso modo, ter sido o ator quem me levou ao filme, pois ele é muito meticuloso e inteligente na construção dos personagens, inclusive para fazer pegadas satíricas e cômicas: respectivamente, Justiça para Todos e O Irlandês são ótimos exemplos.

Neste último, o Jimmy Hoffa do Al Pacino nos arranca sonoras gargalhadas (sobretudo nas cenas com o Tony Pro) sem arranhar o clima de tensão que o personagem dele carrega nas costas a partir da segunda metade da trama. É impressionante como o ator consegue manter tamanho equilíbrio ao longo do filme.

A proposta de se fazer um Aldo Gucci na pele do estigmatizado italiano machista e bon-vivant a dizer buonasera em duas ou três passagens do filme simplesmente matou o Al Pacino. Até nas cenas em que ele poderia brilhar – as vinculadas à perda da empresa – eu o senti insípido. Doeu-me o coração vê-lo tão desperdiçado.

 

Jeremy IronsRodolfo Gucci X Jeremy Irons

Reconhecendo, óbvio, que ele é um exímio ator, arrisco aqui a fazer um adendo no sentido de que o personagem dele, Rodolfo Gucci, foi o menos distorcido do roteiro, fato que talvez tenha ajudado o ator a entregar uma interpretação mais consistente; nota-se nela o drama de uma pessoa amarga e taciturna em função das perdas do passado.

 

Jared Leto

House of Gucci - Paolo Gucci X Jared LetoNo entanto, a grande bizarrice do filme foi o Paolo Gucci : este foi achatado ao nível de um bufão cujo papel é única e exclusivamente denunciar o pai (Aldo Gucci) ao fisco, fato que leva este à prisão e desencadeia a ruína da família. Mais do que [outro] desperdício, trata-se de um contrassenso, pois o Paolo Gucci – considerando a história real da marca – exerceu a clara função de contraponto que catalisou a ruína generalizada. Ele deveria ter sido, por força, um personagem bem melhor desenvolvido e fidedigno.

Vale salientar o muito bem feito trabalho do figurino: numa inteligente metáfora, o visual dele transparece a extravagância e dissonância do personagem em relação à estética e política da marca. Inclusive é eloquente vê-lo pobre trajado em um training. No entanto, ficamos somente neste vislumbre. O que restou da interpretação do Jared Leto foi o cândido olhar que ele lança ao pai, na cena da reunião de família, quando este o tolhe na sua incompetência. A performance nos toca.

 

House of Gucci

Cena da reunião de família.

House of Gucci - Tom Ford

Tom Ford

 

A dissonância foi tamanha, que o próprio Tom Ford – ex estilista da marca que aparece no filme e ainda está vivo – soltou uma nota dizendo ter conhecido e convivido com o Paolo Gucci:  afirmou que ele era sim um sujeito colorido e um tanto extravagante, mas nem de longe era uma pessoa que parecia ter problemas mentais, conforme sugere o personagem do Jared Leto.

 

Lady Gaga

Típica artista pop americana que traz aspectos teatrais para o palco musical. Era questão de tempo, assim como muitas outras cantoras do gênero, ela galgar degraus para o cinema. No despretensioso Nasce uma Estrela, ela Patrizia Regiani X Lady Gagapermanece na zona de conforto ao exercer o papel dela mesma, ao passo que o drama ficou por conta do Bradley Cooper.

Em House of Gucci é perceptível o pulso e dedicação dela à trama; nota-se a verve. No entanto, vale salientar que os excessos do roteiro, os personagens rasos e a trama insípida também a impulsionaram para uma posição de destaque. Se o filme realmente tivesse trazido apelo ao drama da real história de um homicídio de contornos insanos, seria muito provável que ela não entregasse uma boa interpretação. Mas foi possível vislumbrar que, ao contrário da Madonna, ela pode amadurecer como atriz.

 

Adam DriverMaurizio Gucci X Adam Driver

Ele fez jus ao comedido e mauricinho Maurizio Gucci. O problema aqui ficou na evolução da história que deixou uma lacuna entre um casal apaixonado e um casamento despedaçado. Do titubeante personagem do início do filme, ele quase se transforma num cão chupando manga. O roteiro peca muito na fluidez sobre os motivos que causaram o cruel distanciamento do casal (e a morte do esposo).

 

O diretor

Escolha duvidosa dentre diretor e elenco

Sobre o Ridley Scott, causou-me estranhamento ter sido ele o escolhido para dirigir o filme, pois, em comparativo com os icônicos Alien, Blade Runner, Gladiador e Cruzadas, escapa-lhe o gênero drama. Não que ele não fosse capaz de fazê-lo, mas fica o incômodo questionamento sobre o repertório que têm o Francis Ford Coppola e o Martin Scorsese. Ambos talvez pudessem ser mais adequados para lidar com a cultura italiana e com a proposta para esse tipo de filme.

Ele também tem o hábito de escalar atores “crista da onda” – Harrison Ford (Blade Runner), Russell Crowe (Gladiador), Orlando Bloom (Cruzadas) – manobra que costuma suscitar questionamentos sobre a falta de encaixe ao personagem: por que, afinal, o Jared Leto para fazer um homem de meia-idade, careca e barrigudo? Talvez a espanhola Penélope Cruz (cogitada para o papel da Patrizia Reggiani) deixasse o sotaque italiano menos macarrônico que o da Lady Gaga. A resposta é óbvia: apelo mercadológico. Todavia, o elenco de estrelas não bastou.

 

House of Gucci - Ridley Scott

MILAN, ITALY – MARCH 10: Director Ridley Scott, Lady Gaga and Adam Driver are seen filming “House of Gucci” movie.

 

Sobre o resultado do filme, a minha sensação foi a de que o diretor se perdeu. Parece que ele afrouxou as rédeas no meio do caminho e seguiu tateando, deixando lacunas, inclusive o final da trama: o desfecho do homicídio ficou no ar. É importante salientar que as filmagens foram feitas de fevereiro a abril de 2021, quando a Itália ainda estava bastante assolada pela covid 19; então pode ser que o cronograma tenha sido afetado de alguma forma.

 

Muito, muito aquém do esperado

House of Gucci - Al Pacino e Lady Gaga

Veias italianas: Pacino e Germanotta.

Enfim, se foi mesmo o intento do diretor fazer sátiras, funcionou mal, pois não se vê clareza numa pauta de crítica ou reflexão; ficou apenas a ridicularização e o exagero. Se fosse o caso de uma obra de ficção, menos mal. Mas não. Trata-se de pessoas reais que tiveram distorcidas suas histórias de vida. O resultado disso foi a trama embaçada, mal costurada, enfadonha e nem um pouco convincente. É eloquente o vácuo a atravessar o filme. Nem drama e nem sátira: uma bagunça.

Como adendo, ver a aliciante personagem Paola Franchi chamando o bofe Maurizio Gucci para dançar uma S A L S A (se referindo ao som instrumental de Manhã de Carnaval, proto Bossa Nova do Luiz Bonfá) quase me fez dar uma voadora na telona.

O que sobra da produção do filme é a deliciosa trilha sonora, a caracterização dos personagens, um instigante trailer (engana bem) e o carinho de um ítalo descendente para com o outro (foto ao lado). O que sobra da condição de blockbuster da Paramount Pictures será o apelo financeiro e mercadológico para angariar premiações. E olhe lá.

 

A família e a grife Gucci

 

Guccio Gucci: o fundador da marca

Guccio Gucci

Guccio Gucci: fundador da marca, abriu a primeira loja em Florença, em 1921.

Ainda no século XIX, em 1881, nascido em Florença, cresceu em meio às noções de estética e beleza herdadas do Renascimento e acompanhou as atividades do pai que era artesão de origem toscana.

Aos 17 anos, foi para Londres trabalhar como porteiro num hotel 5 estrelas onde conviveu com hóspedes abastados cuja qualidade das malas e bolsas que eles usavam lhe chamou a atenção. De volta à Itália, em Milão, trabalhou numa empresa especializada em artigos de couro.

 

Visão de mercado

De volta a Florença, em 1921, abriu um negócio próprio de malas e luvas também feitos em couro. Nos anos 30, nativos e viajantes que vinham passar férias em Florença tinham a equitação como hobbie, fato que estimulou Guccio a fabricar artigos correlatos e abrir um pequeno “laboratório” onde o couro era tratado. Foi justamente a equitação que inspirou o que mais tarde se tornariam os ícones da marca: o bridão e a faixa que prende a cela à barriga do cavalo em listras verde e vermelho.

Os negócios prosperaram. Àquelas alturas, os seus três filhos – Aldo, Rodolfo e Vasco – já trabalhavam e participavam na gestão do negócio. Estimulado pelo primogênito, Aldo, outra loja foi aberta em Roma em 1938, na Via dei Condotti.

Gucci Bamboo Bag - 1947

Bamboo Bag (1947)

A escassez generalizada imposta pelas guerras fizeram com que a família começasse a usar outras matérias-primas (linho, juta e cânhamo) e a diversificar seus produtos. O célebre exemplo dessa readaptação foi a criação de uma linha de bolsas cuja alça foi feita com bambu. Conhecida como Bamboo Bag, foi lançada nos anos 40 e usada por Ingrid Bergman no filme Viaggio in Italia (1954), de Roberto Rossellini. É até hoje é um dos ícones da marca.

Guccio morre em 1952, quando da abertura da primeira filial internacional da marca, em Nova Iorque. A empresa passa então a ser administrada pelos três filhos.

 

 

Aldo Gucci: filho do fundador e presidente da empresa de 1953 a 1986

Aldo Gucci - Via dei Condotti (Roma - Italia)

Aldo Gucci na porta da loja de Roma. Um traço do pioneirismo da marca foi a abertura da filial na Via dei Condotti, hoje a rua onde se concentram as grandes grifes internacionais.

Primogênito, aos 16 anos já trabalhava na empresa do pai e logo demonstrou ter o olhar acurado para administrar os negócios. Desde então se dedicou a expandir a empresa, tanto no sentido de variar os artigos ofertados quanto em abrir outras filiais. Foi ele quem incentivou a levar a Gucci para Roma em 1938.

 

Expansão da marca

Em 1952, mudou-se para Nova Iorque com seus irmãos Rodolfo e Vasco e abriu ali a primeira filial fora da Itália, duas semanas antes da morte do pai. Dali a marca foi se consolidando e outras lojas foram abertas em Chicago, Beverly Hills, Palm Beach e Toronto, no Canadá.

Mocassim GucciJá engajado em levar a marca para o ramo de calçados, numa inteligente guinada de apelo unissex, em 1953 foi lançado o atemporal mocassim com a miniatura do bridão apoiado sobre uma pequena faixa listrada de vermelho e verde. Peça perene da marca, é também confeccionado com outros materiais e estampas, como camurça e animal print. Vale ressaltar que o bridão e as listras também compõem bolsas e cintos.

Em 1960, em homenagem ao pai e fundador da grife, Aldo idealizou a versão final da logomarca: as iniciais do nome do pai, Guccio Gucci, plasmadas no duplo G cruzado, a qual inspira outras marcas ao redor do mundo ou é toscamente copiada e deturpada em produtos duvidosos.

 

Selo de qualidade

Presidiu os negócios de 1953 (morte do pai) a 1986 (prisão por evasão fiscal). Foi ao longo dos trinta anos na presidência da empresa que Aldo Gucci ajudou a cunhar e veio polinizando ao redor do mundo a percepção do fatto in Italia (made in Italy) como indicativo de qualidade conforme conhecemos hoje. É dele os dizeres que costumam aparecer estampados nas lojas da marca: “Quality is remembered long time after price is forgotten.” (A qualidade será lembrada por muito tempo depois que o preço for esquecido.)

 

Aldo Gucci

“Quality is remembered long time after price is forgotten.”

 

Em 1986, Aldo foi denunciado por evasão fiscal pelo próprio filho, Paolo. Aos 81 anos, foi preso e condenado a 1 ano e 1 dia de prisão. Ao sair, seus três filhos haviam vendido as partes das ações deles por causa do caos financeiro instalado na empresa. Tendo se tornado acionista minoritário, Aldo foi compelido a fazer o mesmo. Morre em 1989 de câncer na próstata.

 

Rodolfo Gucci: filho do fundador e ator de cinema

Rodolfo Gucci

Rodolfo Gucci tem em torno de 40 filmes catalogados.

Sendo o pai e o irmão Aldo o gestores da empresa, trabalhou como ator desde a década de 20 até a metade da 2º Guerra Mundial. Nessa época, usou o nome artístico de Maurizio D´ Ancora, o qual dedicou ao seu único filho, Maurizio Gucci.

Os contratempos da guerra arrefeceram a produção cinematográfica, fato que recolocou Rodolfo de volta às atividades da empresa quando da abertura da filial em Nova Iorque e da morte do pai. O lenço Flora foi criação e presente dele para a atriz Grace Kelly, em 1967.

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Flora.

Em 1974, após a morte do irmão Vasco, as ações da empresa são divididas meio a meio entre Aldo e Rodolfo. Por sua vez, com a morte de Rodolfo em 1983, seu filho único, Maurizio, herda as ações do pai e acumula sozinho 50% das ações da empresa, de modo que os outros 50% ficam distribuídos entre Aldo e seus três herdeiros, Paolo, Roberto e Giorgio.

 

Paolo Gucci: estilista e filho de Aldo Gucci

Quando do estabelecimento da empresa nos Estados Unidos, seu pai, Aldo, o nomeou para a direção administrativa de um dos ramos correlatos. Na virada dos anos 80, a diferente forma de pensar e as diferentes propostas que Paolo tinha para a marca começaram a entrar em dissonância com a então política da empresa estipulada pelo seu pai e o tio Rodolfo.

Paolo GucciComeçaram as rusgas e degringolaram inúmeros desentendimentos administrativos que foram parar na justiça dos Estados Unidos. A relação entre ele e o pai começou a ficar insustentável. Mesmo assim, Paolo tentou lançar coleções próprias usando o nome Gucci sem o consentimento de ambos. Em função disso ele foi duramente rechaçado e perdeu os cargos que exercia. Pouco tempo depois, seu tio Rodolfo morre; cai um pilar.

Por fim, Paolo – no intento de dar vazão aos seus planos dentro da empresa ou por vingança (ou ambos) – tira o pai do caminho o denunciando por sonegar impostos. A guinada, no entanto, funcionou mal porque Aldo era caracterizado por ser um gestor centralizador que gozava de autoridade em todos os departamentos. Por conseguinte, sem a presença dele, a administração da empresa ficou à deriva.

 

Maurizio Gucci: filho de Rodolfo Gucci e o último elo com a grife

Maurizio Gucci

Último elo da família com a grife Gucci.

Quando da morte de seu pai Rodolfo, Maurizio herda metade das ações da empresa numa transação duvidosa que envolve acusação de falsificação de assinatura e que também vai parar na justiça.

Após a prisão do seu tio Aldo, torna-se presidente da empresa que, àquelas alturas, já se encontrava em estagnação criativa e desarranjo financeiro em função dos constantes desentendimentos que surgiram no âmbito familiar e se transformaram em ações judicias.

Foi neste contexto que Paolo vendeu sua parte das ações para o primo Maurizio, o que reduziu a participação do Aldo pela metade e o jogou na condição de acionista minoritário. Na sequência, os dois outros irmãos do Paolo, Roberto e Giorgio, também optaram por vender suas ações antes que elas se desvalorizassem.

Em 1993, na tentativa de restabelecer a empresa, Maurizio contrata o norte-americano do Texas, Tom Ford, para revitalizar o design já um tanto “obsoleto” da marca em comparativo ao street fashion que ditava a tendência dos anos 80. Também nomeia o antigo advogado da família, Domenico de Sole, para a gestão da empresa.

No entanto, os esforços não foram o suficiente. Ele então vende suas ações para a investidora árabe Investcorp, colocando fim à participação da família na marca. Dois anos depois é assassinado a tiros na porta do seu escritório em Milão, sendo a própria esposa, Patrizia Reggiani, a mandante do crime.

 

O legado da marca

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Gracy Kelly com o lenço Flora, presente do Rodolfo Gucci.

Vale ressaltar que a fama da marca, nos idos de 50 e 60, também contou com a fundamental contribuição das celebridades da época áurea do cinema italiano e hollywoodiano, tais como Grace Kelly, Sophia Loren e Audrey Hepburn. Na ocasião, o então presidente John Kennedy nomeou Aldo Gucci como “o primeiro embaixador italiano da moda” nos Estados Unidos.

Por outro lado, os anos 80 – a década perdida – além de marcada pela ressaca econômica, também foi palco de movimentos culturais vindos das ruas, como as roupas rasgadas do punk rock. Isso provocou a marcha inversa na tendência da moda, que acabou mirando as ruas. O luxo e elegância propostos pela Gucci, de fato, já não cabiam naquele contexto.

Ainda assim, mesmo com os contratempos, a história da marca Gucci, considerando também a vida pregressa do seu fundador, é cronologicamente muito extensa e muito intensa. O esmero no design e confecção dos seus artigos colocou a marca na condição de pioneirismo na construção do selo de qualidade made in italy e expansão desse referencial em nível internacional. Muitas grifes vieram na esteira, como a Valentino. É notória a influência que a Gucci exerceu mundialmente em nível de design, qualidade e marketing.

 

* Para os interessados em ver o Al Pacino e Jeremy Irons voando alto em cena, assistam ao O Mercador de Veneza, longa adaptado da homônima peça teatral de Shakespeare. Esse sim vale a pena!

 

Famiglia Gucci

Famiglia Gucci.

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