12. Speedway at Nazareth trouxe o Mark Knopfler e me compeliu a comprar uma bateria

14 de junho de 2016 Paula Esposito

Eu vim efetivamente a “conhecer” o Mark Knopfler em 2007  num papo via msn. Na ocasião, eu participava de um grupo do orkut que tinha a música como pauta. Numa conversa com um dos membros, ele me perguntou sobre o que me chamava a atenção no instrumental de uma canção.

 

Como fazia pouco tempo que eu tinha vivido a emoção de tocar bateria pela primeira vez, respondi que um solo bem casado de guitarra com bateria fazia diferença numa canção. Ele, argumentando que eu iria adorar, me enviou um link: Mark Knopfler – Speedway At Nazareth”. Li aquilo e pensei: “Mark Knopfler? Quem é esse cara?”

Tentei buscar na memória, mas veio algo muito vago, algo que apenas ouvi falar, mas que nem de longe me levaria ao Dire Straits. Então perguntei quem era o fulano. Então o meu amigo do outro lado do monitor, provavelmente um tanto horrorizado com a pergunta cretina, respondeu: “Você não conhece Mark Knopfler??”

O Mark Knopfler

Assumi a minha ignorância e respondi um objetivo “não”. “Conhece uma banda chamada Dire Straits?”, perguntou. Confesso que, ao julgar pela minha trajetória com a essa banda eu torci o nariz para o link e pensei seriamente em não fazer o download. Mas por uma questão de educação, respondi que “sim” e cliquei na tal música. Foi uma das mais fantásticas e bem-vindas quebradas de cara pelas quais passei na vida. Eu olhava boquiaberta para o monitor, tamanho o alto nível de uma banda fazendo um som ao vivo.

 

Speedway at Nazareth

O solo da música começava com uma bateria tribal de volume moderado, guitarra discreta e melodia plana. Paulatinamente, o solo entrava num crescendo em que a guitarra se harmonizou na companhia da bateria, tamanha a afinidade entre a melodia rasgada e o furor tribal cortadas pelo agudo das pancadas na caixa.

Lembro-me de ter desenhado mentalmente os contornos da partitura deste solo. As pautas da guitarra e bateria se encaixariam naquele esquema enzimático de chave e fechadura. Dediquei mentalmente as minhas odes aos bons compositores, pois não deve ser nada fácil encaixar vários timbres de maneira harmônica. Acho que é por isso que a figura do produtor musical é tão importante. Deve ser por isso que a turma dos últimos dez minutos produzem tantos clips e deixam a “música” por conta dos sintetizadores.

Speedway me foi apresentada pouco depois de o chefe ter dobrado meu salário. Parecia até um presente. Então peguei essa minha pequena fortuna no banco, fui até uma loja de instrumentos, saquei o maço de dinheiro do bolso, fechei meus olhos meio que não acreditando no que eu estava prestes a fazer, virei a cabeça para um lado, estendi as mãos para o outro e falei ao vendedor: “Me dá uma bateria!”

 

Bateria RMV

Bateria comprada, eis a simplória partitura de Speedway at Nazareth, canção da carreira solo do Mark Knopfler.

 

Enfim, o show

Minhas lembranças foram interrompidas por um britânico rosado – que mais parecia um porquinho – dizendo ao microfone para não tirarmos fotos porque os flashes atrapalhariam a concentração da banda. Aquilo me pareceu uma desculpa esfarrapada na tentativa de evitar os vídeos clandestinos que pipocariam no youtube, ainda mais que o Mark (e/ou a produtora) são bem canônicos com esses lances de direitos autorais. Bom, o fato foi que ninguém fez cara boa, mas também não houve reclamações. Pareceu-me que o povo europeu era realmente civilizado.

O som mecânico voltou a tocar. O porquinho andava pra lá e pra cá vigiando quem tinha câmeras fotográficas às mãos. Escondi a minha. Repentinamente, o som mecânico cedeu lugar a uma vinheta. Era a vinheta que abria o show! Fui tomada por uma incômoda taquicardia e frios arrepios que percorriam todo o meu corpo. Todos aplaudiam civilizadamente a entrada da banda enquanto eu tremia e arfava.

Inclinei minha cabeça para trás, fechei os olhos e inspirei fundo para tentar controlar minha respiração. Percebi a lágrimas descerem rente ao meu nariz. Abri os olhos e vi as estrelas. Inspirei e soltei o ar devagar. Virei levemente o pescoço para o lado e vi a antiga e bonita arquitetura do Arena.

Então meus sentidos se lembraram que eu estava na aprazível Milão tentando não perder o vínculo com a cidadania italiana. Além do mais, eu tinha todo um espetáculo bem diante dos meus olhos. Um sorriso se iluminava enquanto a flauta transversal soprava uma melodia celta.

Comentário (1)

  1. Felipe

    Muito bom ler uma história interessante de uma pessoa desconhecida tendo essa bela canção como pano de fundo. Sou fã do MK. Se um dia eu tocar algum instrumento, que seja 10% do que ele toca. Abçs!

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