10. No centro histórico de Milão também paga-se caro num coliform´s qualquer

23 de maio de 2016 Paula Esposito

Havia um pessoal cuidando dos preparativos do festival. Não seria somente o Mark Knopfler a tocar. Todos me olhavam com cara de dúvida, pois era óbvio que eu não deveria estar ali. Como ninguém tinha noção do que aquilo significava para mim, ignorei-os solenemente e fui andando por entre as cadeiras para me certificar do meu lugar.

 

Ali estava: cadeira 8, fila 19. Levantei meu olhar rumo ao palco. Lugar central e próximo a ele. Ao esquadrinhar a parafernália espalhada pelo palco, chamou-me a atenção o que me fez caminhar sorrateira feito gato e tirar uma foto sem o menor consentimento do staff. Não era o Mark fazendo passagem de som, mas apenas um case dos seus equipamentos.

Para uma pessoa que não tem alma, aquilo não passaria de uma caixa, mas, para mim, vê-la empilhada em meio à infraestrutura inacabada do palco, amplificadores e papéis de checklists, fez-me vislumbrar a linha tênue que separa a frieza da montagem do que poderia ser mais uma apresentação mercadológica e o calor emocionante do que poderia vir a ser aquela noite. Sim, trata-se de algo personalíssimo, mas acho que foi um das fotos mais legais que já tirei.

 

Case Mark Knopfler - Get Lucky Tour (Milão - Itália)

Chegando perto do sonho: case do Mark Knopfler!

 

Era algo em torno de meio dia e o meu estômago estava indócil. Eu havia saído do imenso jardim em algum ponto que não aparecia no mapa. Adiante, na calçada, vi um pequeno quiosque cujos salgados pareciam estar ali desde a semana passada. No entanto, uma bebida diferente, meio congelada, que rodopiava dentro de uma máquina, parecia ser muito refrescante. E cara.

 

Parque Sempione

Como eu estava perdida, com muita fome e sentindo muito calor, tive que arriscar. Devido ao vazio do balcão, deduzi que o atendente estaria escondido debaixo dele. Chamei uma, duas, três vezes. Quando finalmente apareceu, imediatamente já fiquei cabreira. Eis outro membro dos donos do mundo.

Sublimei meu mau humor e cumprimentei a chinesa com um “bom dia”. Com a costumeira cara de cu, ela ensaiou um sorriso e perguntou o que eu queria. Pedi a tal bebida e perguntei se eu poderia pegar uma mesa, pois as outras estavam ocupadas. Ela então questionou o porquê de eu querer uma mesa se eu somente beberia algo.

Ignorei o comentário e fui eu mesma pegar a mesa quando ela aumentou o tom de voz e disse que ela a pegaria. Sentei para tentar saborear o suco. Na minha garganta, um treco gelado, doce e com gosto de tang sabor qualquer coisa. Paguei aquela porcaria e fui embora bastante irritada.

Para eu não perder a referência, fui caminhando ao longo dos limites do jardim de maneira a tentar me reencontrar no mapa. Pouco adiante vi uma placa numa das entradas: Parco Sempione. O  mapa fazia a distinção entre o castelo e o parque, mas na prática não havia separação física entre eles; o jardim do castelo já emendava no parque. Daí foi fácil seguir o caminho. Parei para admirar a beleza arquitetônica do Arco della Pace.

 

Parco Sempione - Arco della Pace (Milão - Itália)

Na outra ponta do Parque Sempione, o Arco Della Pace surge soberano.

 

O centro histórico de Milão

À medida que eu prosseguia, eu notava o quanto o centro histórico era pequeno. Logo retornei à entrada do castelo. Dali eu cortei caminho pela elegante via Dante rumo ao Duomo. Eu precisava me alimentar.

 

Corso Dante (Milão - Itália)

A aprazível Via Dante une o Castello Sforzesco à Piazza Del Duomo.

 

Daí veio mesmo a triste constatação de que os bolsões turísticos realmente são muito caros. O preço da comida, fosse num restaurante ou num “coliform`s” qualquer, é um absurdo! Rodei, rodei, rodei e só preço alto. Bom, já que era para tirar o escorpião do bolso fui comer o óbvio: la pizza pela quantia módica de 8 euros a fatia. Optei em pedir um sabor diferente para compensar a fortuna.

Quando vi a opção “enchova”, me lembrei do Michelangelo; não o xará do gênio renascentista, mas uma das tartarugas ninja. Rindo dos meus próprios pensamentos ao rememorar o bordão “Santa Tartaruga, Donatello”, desenterrei meu anseio juvenil de pupila do mestre Splinter e pedi a tal pizza.

Meu estômago deu três cambalhotas: uma pela espessura de dois dedo de farinha de trigo, outra pela pedra de sal que eram as enchovas enlatadas e outra pela indigesta conta que iria embora ralo abaixo dali a poucos minutos. Fiquei com tanta raiva que resolvi assumir a minha essência herbívora e entrei numa quitanda para devorar pães e frutas.

Rodopiei pela lindíssima, chiquérrima, caríssima e bem frequentada Galeria Vittorio Emanuele. Foi o tempo de eu fazer umas comprinhas oníricas na Louis Vuitton e Prada, surpreender-me com o M de McDonald`s submetido ao molde fashion em ouro envelhecido milanês e retornar ao hotel.

 

Galleria Vittorio Emanuele (Milão - Itália)

A beleza arquitetônica da Galleria Vittorio Emanuele.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *