3. Cidadania Italiana… Em Portugal?!

5 de abril de 2016 Paula Esposito

E veio pedrada: o agendamento da legalização dos meus documentos da cidadania italiana foi cancelado pelo Consulado por questões internas. Às vésperas da minha viagem, a pessoa que iria conceder seu endereço para ser a minha residência na Itália diz que não poderia mais me hospedar lá: motivos justificáveis segundo uns e duvidosos segundo outros. A consequência direta e de fato é que eu simplesmente tinha ficado sem chão. E sem teto.

 

Isso aconteceu no final de junho, faltando vinte dias para o show do Mark Knopfler em Milão. Para tentar reverter a situação, arrisquei opções plausíveis, absurdas e inconvenientes. Num momento de curiosa inspiração, lembrei-me que há muito tempo eu tinha cadastrado o meu currículo num site que eu achava ser brasileiro, mas que na verdade era de Portugal. De todos os que me cadastrei, este era o que mais me enviava propostas de emprego. Lembrei-me que uma parceira de futebol, a Iolanda, havia me dito já ter morado neste país.

 

A pelada semanal no clube

A Iolanda, eu a tinha conhecido há pouco menos de um ano através do nosso técnico de futebol. Logo vi que ela era o que eu já havia sido em campo: super veloz e receptora de todas as pernadas de segurar contra-ataque. Eu já havia me tornado zagueira, com as pernas livres dos roxos de quem tentava me barrar e cautelosa quanto ao uso racional do meu fôlego depreciado. Rolou afinidade imediata. Quando possível, corríamos juntas para obrigar a defesa adversária a escolher com quem ela iria sofrer.

 

Eu e Iolanda: foi pela ajuda dela que consegui dar andamento à cidadania italiana.

Eu e Iolanda: foi pela ajuda dela que consegui dar andamento à cidadania italiana.

 

Além da amizade em campo, tinham os bate-papos do pós treino que eram sempre legais. Certa vez ela me falou sobre sua experiência em Portugal e acrescentou que a sua mãe ainda residia por lá. Pareceu-me uma saída plausível pedir a Iolanda que a consultasse sobre ela ter notícias de oportunidade de trabalho em terras lusas.

Como eu já estava com voo reservado, ingresso de show comprado, meia documentação pronta, sem trabalho e com idade limítrofe para aventuras no além-mar, optei por tentar dançar o Fado como um degrauzinho temporário para chegar à Itália. Tendo a Iolanda já passado por bons perrengues, deduzi que ela seria empática para com a minha situação. Na dedução eu acertei em cheio. Na consequência fui lindamente surpreendida.

 

Portugal como ponte rumo à cidadania italiana

No dia seguinte à nossa conversa em que expus a minha situação, ela me deu a inacreditável notícia de que a mãe dela, Lucília, me hospedaria na casa dela. Melhor: já havia disponíveis aqueles trabalhos de veraneio. Mal pude acreditar. Faltando uma semana para o show, foi uma correria louca, mas, ao que tudo indicava, finalmente, eu conseguiria embarcar.

Pois é. Foi assim que o meu anseio de anos saiu do forno. Será que as coisas feitas dessa forma podem ter um bom desfecho? Quando não se tem muito a perder, qualquer resto é resto.

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