Já um pouco desconectada do planejamento da cidadania italiana e da turnê do Mark Knopfler na Itália, na semana seguinte comecei a trabalhar na prefeitura. Disseram-me que eu teria que abrir uma conta no Banco do Brasil. Lá, a atendente foi logo me oferecendo o cartão de crédito. Respondi que não e aleguei que eu não tinha e não teria fundos.
Ela insistiu e disse que nos primeiros seis meses não teria que pagar prestação de anuidade. Argumentei que o meu contrato era de apenas dois meses e com pouca chance de renovação. Claro que eu não faria fundos nesse meio tempo. Dispensei mesmo o cartão.
Show extra do Mark Knopfler em Milão
Uns dias adiante, por motivos que eu juro serem totalmente obscuros, eu entrei nosite oficial do Mark. Lá estava em letras garrafais: “concerto extra em Milão”. Cliquei para ver a disponibilidade dos ingressos. Quase sofri uma síncope: somente a fila do gargarejo estava completa. Forma de pagamento: cartão de crédito.
Montei na minha bike e nem cinco minutos depois eu já estava no Banco do Brasil tagarelando o meu desespero para a atendente que tinha me atendido anteriormente. Para a minha sorte, a mulher era muito bacana e me sugeriu entre os dentes que eu poderia comprar o ingresso e cancelar o cartão logo depois. Resolvi aceitar a dica mesmo sem saber o que viria pela frente.
O cartão demorou uma semana para chegar. Para desbloquear e habilitá-lo para compras no exterior, foi o final de semana e mais um dia. Claro que por conta desse meio tempo, a venda dos ingressos já teria se expandido para os lugares centrais. Meus nervos estavam em daquele jeito.
Agora, munida do meu power cartão de crédito, teletransportei-me para frente do computador. Até que a situação não estava tão periclitante assim. Havia bons lugares. Eu via o brilho dos meus olhos refletidos na tela do monitor. Minha concentração foi interrompida ao perceber que o mouse se movia sozinho, arrastando cuidadosamente o seu cursor até os lugares centrais do mapa. Fiquei ali, admirando aquele pequeno espetáculo de balé até o momento em que cessou na fila 19, assento n°8.
Próximo passo: o número do cartão de crédito. Eis a compra efetuada com sucesso: Mark Knopfler, il 14 luglio, 21h a Milano.
A cidadania italiana em rota de colisão
Aproveitei que o cartão já estava em mãos e reservei dois dias num quarto de hotel 1 estrela com banheiro compartilhado bem no centro histórico de Milão. Pronto! O gesto da mais genuína insanidade estava feito. Agora era cuidar de coisas “secundárias”, como a burocracia retardatária dos documentos da cidadania italiana, passagem aérea e mais o que viesse…
E veio pedrada: o consulado italiano não legalizou as minhas certidões devido à suspensão deste serviço em favor de uma força-tarefa por motivos outros. Além disso, às vésperas da minha viagem, já com voo reservado, a pessoa que seria responsável por endossar a minha residência na Itália me telefona e diz que não poderia me hospedar lá.