Metáfora arquitetônica: a cúpula do parlamento alemão, em Berlim

Ao lidar com situações advindas do trabalho com a cidadania italiana, a própria definição de cidadania – e o que tem sido feito dela – passou a ser para mim objeto de reflexão e estudos. Neste particular, do tempo que passei na Alemanha, a capital, Berlim, muito me sensibilizou. 

A reconstrução do Palácio do Reichstag, sede da câmara dos deputados, muito me chamou a atenção devido à inteligente metáfora arquitetônica em favor do desfrute da cidadania.

A importância do parlamento como fórum democrático – tanto pelo que foi extraído da própria história da capital quanto pelo atual compromisso com a acessibilidade e sustentabilidade – representa uma amálgama de como podemos interpretar a cidadania como conceito. 

Acessibilidade

Políticos e civis compartilham do mesmo acesso ao prédio. A fachada foi reconstruída após as destruições da guerra e reinaugurada em 1999, quando da transferência do governo alemão de Bonn novamente para Berlim.

Acima do pórtico, lemos Dem Deutschen Volke (Ao Povo Alemão). O terraço, onde está a cúpula reconstruída segundo os moldes da original de 1894, é uma extensão do espaço público, ou seja, é aberto à visitação gratuita. 

Dem Deutschen Volke (Ao Povo Alemão). O palácio teve a fachada reformada após as destruições da guerra.

A cúpula

A cúpula de vidro parece ter sido projetada com design e recursos tecnológicos para nos remeter a uma cena de Blade Runner. Ela está localizada acima do plenário da câmara dos deputados, tendo como divisão um teto também em vidro.

Este detalhe arquitetônico foi projetado como via metafórica a demonstrar que o povo está acima dos seus representantes, de modo que o espaço se apresenta como um magnífico mirante cujas rampas de acesso conduzem os visitantes ao seu topo. 

Plenário do parlamento alemão localizado sob a cúpula de vidro: o povo está acima dos seus representantes.

Sustentabilidade

O topo da cúpula é aberto, por onde – através do imenso funil espelhado – o vento é canalizado para refrigerar o interior do plenário. A chuva e a neve também são coletadas no mesmo funil para o fornecimento de água ao edifício.

Os espelhos móveis acoplados ao funil tanto refletem a luz para iluminar o ambiente quanto a refratam para absorção de calor, o qual é usado no sistema geral de calefação.

Conforme vamos subindo a rampa, as legendas do audio guide nos situam com informações sobre a arquitetura do edifício e do seu entorno.

Por conseguinte, o modesto uso de energia permite ainda que o Reichstag funcione como uma mini central elétrica. O excedente da energia é distribuído para os demais prédios que compõem o complexo da gestão governamental.     

Berlim até onde a vista alcança

A vista de cidade é um gigante tapete high-tech. Dali se vê o icônico Portão de Brandemburgo e parte do Tiergarten. Mais ao fundo, a arrojada sede do sistema ferroviário alemão (Deutsch Bahn) e o futurista (em roxo) Sony Center.

O quadro pintado dali é tão eloquente e belo quanto a chance de poder testemunhar o estímulo e funcionamento dos muitos vieses que constroem a cidadania.  

Berlim vista da cúpula do Parlamento Alemão.